terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Há futuro no Jornalismo?


Há pouco mais de 10 anos, quando fui fazer a minha primeira prova do vestibular, o tema da redação previa o fim do jornalismo impresso em 20 anos. As “Bestas do Apocalipse” já assombravam naquela época e, lógico, discordei com veemência. Afinal, como poderíamos ser tão altruístas ao afirmar que o Jornal, que hoje folheamos, daqui a vinte anos iria acabar?! E como iam ficar a pintura de nossas casas, carros, sem ter os jornais? Isso seria um ultraje.
Brincadeiras à parte, não disse isso em minha redação. Mas toquei no ponto sobre evolução tecnológica e o comportamento humano com o passar do tempo. Na época, não conseguia conceber como uma instituição de mais de 300 anos iria sucumbir com o aprimoramento tecnológico em 20 anos.
Apesar de entusiasta tecnológico, ainda tenho um prazer guardado no passado em que, ler cartas sempre recorre a um tempo distante, mas, muito precioso. Se adaptarmos as nossas necessidades pelo constrangimento do tempo, não é porque achamos menos prazer em ler um jornal em nosso momento de descanso ou ler uma carta. Aliás, você sabe quando foi à última que você recebeu, sem que fosse a fatura de seu cartão de crédito?
Voltando ao Jornalismo de hoje em que, discutimos se um jornalista precisa agir como jornalista e um publicitário como tal, um RP da mesma forma, questionamos mais uma vez as regras de mercado e a necessidade do profissional multitarefa. Professores e estudiosos sobre o tema, como o espanhol Ramón Salaverria, já se estenderam demais ao falar que a convergência, como processo dentro das instituições jornalísticas, visam transformar o profissional numa máquina de mil braços com inúmeras funções e com o salário reduzido.
Como profissional, não concordo com as regras de mercado, mas infelizmente elas se fazem presentes: ou nos adaptamos ou somos realocados para o grupo dos desempregados. As multiplicidades de opiniões que surgiram com o surgimento das redes sociais digitais e a apologia do consumo  com  as novas tecnologias de difusão e distribuição de conteúdo mostram  que o futuro guarda mudanças mais profundas ao jornalismo, mas nem mesmo elas são precisas quando se aponta uma tendência ao Jornalismo do futuro.
Em 2011, vimos a Newsweek (uma das publicações mais tradicionais do mundo, deixar de circular em meio impresso e só se restringir ao Online). Em contrapartida, o The Daily, que apostou na era da comercialização digital da informação através do iPad, vai encerrar as atividades no início de 2013 por não apresentar o resultado além do esperado. 
Se não chegamos a um consenso sobre como se dará o consumo da informação no futuro, como poderemos ser pretensiosos o bastante para afirmar que o jornalismo impresso acabaria dentro de alguns anos?! Vou mais além: existe quem aponte de que forma sobreviverá o jornalismo que conhecemos, no futuro. 
Uma coisa para mim é certa: continuaremos lendo confortavelmente as revistas e os folhetins impressos por muitos anos. Continuaremos ludibriados pelas editorias inescrupulosas de seus jornais. Continuaremos tendo nossas opiniões mediadas pelos jornais e isso, não mudará nem nesta, nem na próxima década.

Rafael Gomes

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

SIGAM-ME OS BONS!









Essa máxima criada por Roberto Bolanos (Chaves) para o tão famoso herói atrapalhado Chapolin, onde quase sempre depois de dizer essa frase o mesmo ia encarar algo amedrontador sozinho. Isso também relembra a sina do poeta Virgílio que com uma lanterna na mão se viu condenado a vagar pela eternidade procurando um homem realmente honesto!
Foram desses dois exemplos que eu lembrei quando ao assistir um programa onde se usa dinheiro de patrocinadores e doações de empresas que querem fazer propaganda, onde se busca expor a vida do "ajudado" a fim de conseguir audiência e também tornar visível o nome de algumas pessoas, o apresentador do "Tolerância Zero", se chamou de bom e que seria uma das poucas pessoas boas do estado de Sergipe e que o povo sabia disso.
Ora, citando um dos poucos homens realmente bons que já existiu chamado de JESUS - " Quando fizeres caridades não deixe que sua mão esquerda saiba do que faz a direita!" ou ainda "l Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens." (Mateus 6).
Essa "bondade midiática" está longe de ser sinônimo de bondade moral e de caridade, apenas faz parte do trabalho é algo tão pensado quando qualquer outro comercial. Apenas pelo poder do Marketing programas que expõem de forma tão humilhante pessoas conseguem gerar para os seus apresentadores a alcunha de "BOM". A fraqueza do povo diante da mídia não é algo novo, contudo como sempre vem sendo combatida pela mídia de informação, como pretende ser o nosso portal. 
Vejam que não é coincidência esses "BONS" se lançarem candidatos, gente que faz programa de medicina, gente que faz programa de direito do consumidor, gente que faz programa de entretenimento onde essa relação é disfarçada de algo profissional e muito bem remunerado para como se fosse algo voluntário. Envergonhando gente como eu que realmente pratica trabalhos voluntários. E mais comumente ainda esses bons não executam nenhum outro trabalho de caridade a não ser aqueles para os quais são muito BEM PAGOS para apresentarem.







Em suma, as pessoas boas de verdade raramente se expõem toda semana ou diariamente na mídia, eles estão fazendo seu trabalho sem esperar reconhecimento, sem esperar patrocínio ou sem esperar uma gorda remuneração no fim do mês, fazem seu trabalho pelo simples fato de se sentirem bem.





Kineko Manoel Natagawa







domingo, 18 de novembro de 2012

Chinaglia, Goldberg e o pós-eleição 2012: 2014 já começou.






“O PT foi o partido mais vitorioso porque nós fomos o mais votado no primeiro turno. O PT é o Partido que governará através dos municípios a maior quantidade de brasileiros a partir de janeiro”, por Arlindo Chinaglia, em http://ht.ly/eZ2Gy

“O crescimento modesto do PT, mesmo contando São Paulo, onde usaram durante a campanha antigos costumes da política brasileira, como o loteamento de cargos federais (Maluf e Marta Suplicy), tornou mais distante o sonho lulopetista.” por Alberto Goldman, em http://goo.gl/aOpuU



Duas declarações, apontando vitórias de peso, para partidos em situações opostas. Ambos estão certos, apesar de parecer contraditório: o PT teve mesmo crescimento nas prefeituras e no número de vereadores. Em alguns lugares, quebrou verdadeiros processos hegemônicos.
Mas o crescimento do seu oposto, o PSDB, barrou parcialmente os avanços petistas em redutos importantes. Além disso, se contabilizadas somente as cidades com mais de 200 mil habitantes, o PT perdeu algum espaço. E isso sem considerar os avanços do PSB e algumas rupturas de alianças nacionais, no âmbito local, como no caso do próprio PSB em Fortaleza, que segue aliado nacionalmente, mas rompe no âmbito local.
Contudo, o desempenho do PT em tradicionais redutos tucanos pelo estado de São Paulo, deu um fôlego extra, mesmo em casos onde não houve vitória. O partido passou a marcar posição e agora, prepara o terreno para governar o estado paulista. O próprio Chinaglia, na entrevista onde foi pinçada a fala do topo do texto, afirma isso: o partido vem fortalecido para uma disputa ao Palácio dos Bandeirantes.
Goldberg, porém, também tem o que comemorar. O segundo turno foi generoso para o PSDB e para seus aliados, dando a um deles (PPS) a cidade de Vitória, capital do Espírito Santo, além das vitórias do DEM, em Aracaju e Salvador. De certa forma, o PSDB evita um processo de enterro da oposição, mas terá de seguir a orientação de FHC e renovar o partido, gerando militância ativa, de rua. Tal processo deve ser definido em breve, já que Sérgio Guerra encontra-se debilitado. Segundo o blog do Josias de Souza (http://goo.gl/kopgA) , o PSDB tem se preocupado com o estado de saúde de Guerra, a ponto de tentar acelerar o processo de renovação. O próprio Goldman não parece estar disposto a continuar conduzindo a legenda até maio de 2013, data das eleições internas. Mas, aparentemente, não parece haver nomes fortes para promover a renovação da sigla partidária, como anseia FHC.
O PT, por sua vez, será conduzido a uma reformulação da sigla, após a condenação de importantes figuras de sua estrutura no julgamento do Mensalão, pelo STF. E as mudanças começam a acontecer, com plenárias, discussões e debates internos pelo país. Com as alterações definidas no quadro geral de prefeituras, o partido deve sofrer mudanças internas em 2013, visando ampliar os quadros nos planos federal e estaduais em 2014.
Em suma, não importa se é tucano ou petista, vem reforma por aí.


George Lemos


quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O incentivo à educação X A má vontade do Brasileiro







Resolvi começar a minha introdução no blog com um tema que acho pertinente a todos nós, independente de visão político-partidária ou com maior ou menor grau de instrução. É fato, o Brasil nos últimos anos vem estimulando de forma até bem positiva a oferta de cursos para a grande maioria dos Brasileiros e aos poucos estamos colhendo resultados dessa iniciativa.
Segundo dados recentemente divulgados, o investimento em educação pulou de 10% para quase 17%, nos últimos 10 anos: um dado positivo, mas ainda aquém de diversas outras nações. Porém, ainda que não o ideal o investimento não venha sendo deixado de lado ainda que diversas outras políticas públicas não melhorem significativamente a educação em si.
Problemas como os do encontrado com o REUNI evidenciam que o projeto de expansão como um acordo hierárquico entre as instituições públicas que aceitassem receberiam investimentos e se não aceitassem poderiam ser punidas, pôs em cartaz o aparente limbo que existe entre o projeto educacional maniqueísta pensado pelos governantes e a realidade da pesquisa no país por dentro das instituições federais de ensino, onde o sucateamento e a expansão são realidades por vezes recorrentes em boa parte das universidades país afora.
Mas será que o problema da educação realmente está na forma como o governo assume as políticas públicas na área da educação? A meu ver, não isento de responsabilidade o governo, mas com certeza falta compromisso do povo Brasileiro em arregaçar as mangas e ir atrás de opções que possam melhorar o seu desempenho e projetar empregos melhores no futuro. Não é de hoje que vemos empresas que investem pesado na capacitação de seus funcionários e programas de aprendizagem em diversas instituições, mas, com tudo isso, mesmo estes funcionários gozam dessa possibilidade? 
Em conversa com um amigo meu, daí de Sergipe, na empresa em que trabalho, disponibiliza educação para os quase 100 funcionários para as obras da construtora. Mas dos quase 80 que se inscreveram no inicio do ano, hoje restam menos de 30. O que é pior foram deixando o curso por aparente comodismo.
Essa é uma realidade não isolada no Nordeste, encontramos exemplo disto no país inteiro, hoje, mesmo aqui no RS onde resido há quase um ano, encontramos diversas pessoas que por mais que haja oportunidade não aproveitam. Mais recentemente, estou eu mesmo fazendo um curso de design gráfico oferecido em uma parceria entre a prefeitura municipal e o SENAC a fim de capacitação profissional. Detalhe? Fui pesquisar o mesmo curso em Aracaju e para ter o mesmo número de hora/aula que estou tendo eu teria que desembolsar mais de R$ 1300 reais (mesmo no SENAC local).
Pois bem, esse curso que faço é gratuito. Estudo numa sala com computadores modernos, numa sala confortável com ar-condicionado e conforto, com toda a infraestrutura necessária para possibilitar o aprendizado. Além de ter me inscrito no programa da prefeitura conto também com auxílios como vale transporte (para os que mora longe da escola e ainda auxílio alimentação) Ou seja, além de não pagar, sou pago para comparecer as aulas.
Mesmo assim, o número de inscritos no curso é baixo e a procura bem reduzida. Isso acaba me frustrando como Brasileiro, pois, é muito complicado ver oportunidades como esta mesmo em que você pode ganhar conhecimento e iniciar uma carreira profissional ganhando bem mais que um salário mínimo em que muitos diplomados atualmente ganham.
Infelizmente, começo mesmo a achar que o problema maior da educação no Brasil é o Brasileiro.



Rafael Gomes

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Tempo, convicções e ações. Contradições vistas (e revistas) nas eleições 2012.

     Aguardei alguns dias antes de produzir a minha análise acerca do pleito eleitoral que acabamos de vivenciar. Queria estar mais à vontade, e passado o calor do momento, me sinto mais seguro para desenvolver uma análise racional (e não emotiva) de alguns fatores interessantes que observei durante os últimos meses. Antes de qualquer coisa, explico e explicito que aqui exponho a minha opinião individual, fruto de minhas avaliações e observações. Fiquem à vontade para concordar ou não.
    O primeiro ponto sob o qual concentrei minha atenção foi na linguagem de comunicação utilizada pelas campanhas majoritárias. Como bem observou George Lemos, em seu artigo “Cresceu, mas não levou.”, publicado em nosso blog, o candidato do bloco situacionista não conseguiu desenvolver uma conexão sólida com o eleitor. A campanha mostrou-se morna, não empolgou, não demonstrou uma seqüência lógica compreensível na construção do seu discurso. Assistam aos programas de TV em sequência e penso que entenderão do que falo. O principal candidato de oposição, e vitorioso ao final do certame, apresentou um programa bem mais simples e mais bem padronizado graficamente, com uma linguagem mais leve e dinâmica, contudo, assim como todos os outros, foi de uma densidade político ideológica muito baixa, e os argumentos em geral foram sempre frágeis e superficiais, repito, em todas as candidaturas majoritárias.
Dos demais candidatos de oposição, destaque para a melhoria significativa da produção do programa de TV da Frente de Esquerda. Conseguiu criar uma boa expectativa, mas que caiu por terra com o fraco desempenho de sua candidata no principal debate na televisão aberta. A candidatura do Partido Verde mostrou-se sem força, sem graça, e sem conteúdo. Pareceu prenunciar a morte eleitoral de um partido que, nacionalmente, parecia enfim impulsionado pelo resultado obtido em 2010.
    Situação semelhante viveu a candidatura do PPS. Isolado no campo de alianças e solitário internamente, usou de maneira completamente equivocada a liberdade de discurso que possuía. Criticou a ausência de debate e não promoveu o debate (o partido tinha essa responsabilidade, muito mais que o candidato); criticou a ausência de propostas e não apresentou as suas propostas; questionou o passado político dos demais concorrentes e esqueceu-se do seu próprio passado. O resultado de tamanha incoerência política e de comunicação? Rejeição esmagadora e quase que absoluta do eleitorado, que, percebida, culminou na desistência pública (e ao vivo) do candidato. E este ato de renúncia ainda deverá ser observado com atenção, pois pode ter levado o político em questão para uma faixa perigosíssima – e talvez irreversível – onde ficam os políticos folclóricos e sem credibilidade.
    Porém, talvez a grande contribuição da campanha do candidato do PPS tenha sido a correção (a bem da verdade pontual) de alguns conteúdos apresentados, o que me leva a avaliar que o erro foi de forma e de método, principalmente.
    Feita esta breve análise da comunicação das campanhas majoritárias, atenuo o pouco sucesso a um fato, digamos, pitoresco desta eleição: a ausência de debate em torno de um tema central, principal, o “grande tema”, como tecnicamente costuma-se chamar. Particularmente, apostei a um ano que o debate principal dar-se-ia em torno da mobilidade urbana, mas, definitivamente, o que vi foi um debate "do trenzinho versus o ônibus sanfona". Passou-se ao largo de um debate apropriado da questão. Falou-se o óbvio geral do tema e não se apresentou, de nenhuma parte, propostas concretas.
     Mas teria sido este o principal problema, ou a principal observação a ser feita no momento de avaliar o humor do eleitorado, para a construção dos discursos? Penso que não. Ao analisar o humor do eleitorado aracajuano era latente – e por isso mesmo de fácil percepção – que, por melhor que tivesse sido construído o discurso do candidato da situação ou das oposições, o eleitor tinha claro, para si, o cumprimento de um recado dado em 2010: o de que não estava satisfeito com a condução dos governos estadual e municipal, e coube nesta eleição ratificar este sentimento. É importante observar também que este recado teve endereço e nome, e que por mais que se tentassem criar vacinas de comunicação, era previsível que não surtiriam o efeito necessário. Aponto como atenuante do insucesso das estratégias de comunicação, principalmente da candidatura de situação, o fato de que o processo de reversão da rejeição apresentada desde 2010 dependia decisivamente de ações conjunturais na esfera política, e na mudança da linguagem e da forma da comunicação governamental. Se este trabalho tivesse sido feito a tempo, os resultados poderiam ter sido bem mais satisfatórios.
     Superada a primeira parte de minha análise, passemos adiante. Enxerguei nestas eleições que, observadas o máximo de candidaturas que consegui acompanhar, grosso modo, esta foi a campanha mais profissionalizada dos últimos tempos, e em todos os sentidos. Havia mais interesses e lideranças ávidas pela sobrevivência política do que pudessem suportar as vinte e quatro vagas em disputa. E só que luta ou já lutou pela própria sobrevivência é capaz de dimensionar o que digo.
    Isto posto, o planejamento antecipado, a construção com foco, o discurso bem elaborado, conciso, coerente, e com conteúdo de fácil assimilação fez (e faz), sim, a diferença para muitos dos candidatos eleitos. Infelizmente a desculpa de que custa caro investir numa boa equipe de comunicação profissionalizada foi novamente usada por grande parte dos candidatos (derrotados) – e em grossa maioria os ligados a partidos de esquerda – o que afirmo, é um mito.
    Se há planejamento antecipado, há previsão de custos, e o investimento em comunicação é diluído ao longo dos quatro anos. Sim! Quatro anos! Ou será que ainda há quem pense que se constrói uma candidatura da noite para o dia? Existem fases, etapas e avaliações a serem respeitadas, num processo normal e profissional de construção, a não ser que o pretenso candidato tenha aporte financeiro e político tão seguro que lhe seja permitido entrar na disputa mais proximamente ao pleito. Planejar é preciso, negociar é fundamental, e profissionalizar é decisivo!
    E é aqui que a visão técnica da construção de uma campanha bate de frente com a visão – que se confunde com convicção – política do candidato. Poucos aceitam a orientação técnica, principalmente no que se refere a Comunicação, quando pior, vêem-se capazes de desempenhar/acumular a função, confundindo impressões e opiniões com saberes.
    Outro erro clássico acentuado na última eleição foi o de leitura e análise de conjuntura. Ao não definir claramente, para si e para a sua equipe de campanha seu mote, posicionamento e perfil, muitos candidatos permaneceram no que podemos chamar de “zona da pasmaceira”, explicando, não desenvolveram ou apresentaram qualquer característica que os destacasse dos demais. É conseqüência do erro de leitura e análise a escolha equivocada de estratégia, que pode ser acentuada se não houver um planejamento prévio. Há de se observar – e aconselhar – que a leitura e análise devem ser feitas de maneira plural. É extremamente perigoso quando o candidato depende de uma leitura única, por mais embasada que seja.
     Por fim, vou um pouco além do que disse Cláudio Nunes em seu artigo “Aracaju: fecha-se um ciclo político”, publicado em seu blog na Infonet em 08/10/2012: Esta eleição não representa apenas o fim da permanência de um bloco à frente da PMA. Representa também o fim de uma geração de políticos que, ao não perceberem a evolução e profissionalização na construção dos processos e dos discursos eleitorais, foi esquecido pelo eleitor e perdeu seu valor político. Não se pode confundir convicção com teimosia. A história é implacável em sua narrativa, e o tempo cruel em seu processo de seleção.

Por Oswaldo Vilela

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Cresceu, mas não venceu.

   Não adiantou Almeida desistir, Vera derrapar e João deixar de subir nas pesquisas: Valadares Filho não foi suficiente para garantir a sequência do grupo que governa Aracaju. E tudo pode ser explicado em uma ou umas laudas, de forma levemente esmiuçada.
    Comecemos pelo aspecto visual: a campanha do jovem Valadares é composta por cores quentes e tipografia pesada, além de um BG animado. Tudo isso contrasta com a voz mansa e o aspecto pueril do candidato, ao se apresentar no vídeo. Se a ideia era fazer o contraste, não deu certo, como os resultados das  urnas puderam mostrar.
   Além de encarar um adversário experiente, Valadares Filho e seu grupo tiveram pela frente um “feijão com arroz bem feito”, com a campanha de João Alves Filho errando pouco e fazendo bem o essencial.
  No vídeo da campanha de oposição, dois apresentadores com rostos localmente reconhecidos e jovens, contrastavam com o time de apresentadores do candidato do PSB, onde a aposta foi realizada sobre um trio sem identificação com o público local e de sotaque padronizado.
   O aracajuano, já desconfiado com o candidato escolhido pela situação e com o histórico recente de votação, resolveu manter a aposta de 2010 e levar João Alves Filho ao seu segundo (e talvez, último) mandato como prefeito de Aracaju.
   Tanto na hipótese de vingança contra o atual governador, quanto na hipótese do baixo potencial de votos próprios do candidato escolhido, é necessário se fazer notar que a estratégia de comunicação escolhida não foi capaz de reverter o cenário apontado desde o início, pelas pesquisas.
   Não custa lembrar: nas últimas pesquisas antes das inserções de rádio e TV, a candidata do PSTU estava a frente do candidato governista. Faltou fôlego, faltou interação ou faltou candidato? Com a palavra, o leitor.
 
Por George Lemos.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Produzir. Consolidar. Avançar.

"A dualidade entre fatos e decisões leva à validação do conhecimento fundado nas ciências da natureza e desta forma elimina-se a práxis vital do âmbito destas ciências. A divisão positivista entre valores e fatos, longe de indicar uma solução, define um problema.”
Jürgen Habermas

     Em meados do século XIX, o mundo vivia a experiência do fato de que as potências européias começavam a reestruturar a sistemática metodológica de sua dominação perante os povos africanos. Deixava-se de lado a dominação pela força e poderio militar e dava-se início ao processo de dominação econômica e intelectual sobre estes povos. 
   Este processo de dominação confirmou-se ao passar do tempo muito mais cruel e insensível, consolidando de maneira vil e maniqueísta o processo de evolução formativa de um dos centros de cultura mais importantes do globo, a África. 
     Sendo assim, fez-se mister o surgimentos de focos de resistência em todo o globo. Resistência não somente ao exercício da dominação imposta pelos tentáculos suaves e sedutores da globalização, mas ao sério risco de extinção em cadeia de vários e importantes núcleos geradores de cultura. Um risco e um grave problema para todo ator/militante cultural. 
     Acompanhando este processo muito de perto, e muitas vezes sendo dele protagonista, os Estados Unidos transformaram-se no maior desenvolvedor do processo de dominação econômico-intelectual. Sua capacidade de entender e buscar alternativas para reorganizar e retroalimentar essa dominação foi um dos pilares que tornaram a América o senhor do mundo, e por que não dizer, o senhor da guerra. 
     E decorrente deste contexto está o processo que, neste momento, nos interessa analisar, a forma e a práxis dos governos petistas em desenvolver as políticas públicas produzidas por seus setoriais contra o exercício da dominação cultural por parte da elite dominante. 
     A massificação do comportamento cultural baseado no “hambúrguer com coca-cola e calça jeans” destruiu por completo histórias culturais inteiras, aniquilou processos de identidade sócio-cultural há muito sedimentados, e substituiu ícones sociais históricos pelas bandeiras do Mc Donald’s e da Nike. E não parou nisto. O processo evolutivo do exercício da dominação cultural seguiu par e passo o desenvolvimento tecnológico e afetou intimamente os corações e mentes em todo o mundo. A massificação do acesso a internet provou ser a nova revolução industrial. Uma forma rápida e eficaz de ampliar – sem precedentes, nem dimensões – o leque de cidadãos atingidos pela febre do acesso a informação. E então chegamos, por conseqüência, as redes sociais. 
     E como fica a cultura neste processo? Fica, assim como a política, esperando entrar na pauta de debates do quotidiano. Mais uma vez, nos vemos diante de uma forma dominatória inteligente, renovada, revigorada, e ciente da sua capacidade de reprodução. É preciso reconhecer a força do adversário contra os quais lutamos e jamais perder o foco do que deve ser a batalha por uma Cultura inclusiva, educativa, producente, e de massas. 
  A cultura deve ser entendida como o mecanismo transformador e impulsionador do desenvolvimento intelectual de uma sociedade, aliada a educação basilar, a cultura sedimenta no indivíduo os valores morais e sociais que definem o comportamento da sociedade, molda a ação das instituições de Estado e principalmente, permeia o desenvolvimento da identidade cultural de um povo.  
     Cultura não pode jamais servir de objeto de barganha ou moeda de troca em processos políticos, muito menos servir de bandeira efêmera de uma globalização capitalista desenfreada e cruel. As bases do socialismo real também são construídas via cultura, e quebrar a dominação imposta pelas potências européias, submissas do império americano é, sim, fazer brotar novamente nas sociedades, em todos os seus níveis, processos de desenvolvimento da consciência crítica e retomada da construção coletiva de nossa identidade cultural. 
     Desta forma, o Partido dos Trabalhadores tem de fazer valer o seu compromisso histórico com a reorganização da Cultura Brasileira. Capitanear nos locais onde possui o comando dos governos estaduais e municipais as sistemáticas de desenvolvimento do saber e do conhecer cultural. Colocar em prática as idéias formuladas ao longo de anos de debate e vivência partidária e de diálogo com a sociedade civil, organizada e não-organizada. Nesse momento em que a cultura popular encontra uma ambiente extremamente favorável para o seu desenvolvimento, é muito importante que o Partido dos Trabalhadores tome as rédeas do processo, a não simplesmente conforme-se em acompanhar de perto as decisões tomadas. 
     Mas este trabalho não pode e nem deve ser desenvolvido de maneira restrita. A pluralidade de grupos presentes no processo de desenvolvimento das políticas públicas é fundamental para que se cumpra o papel democrático de ocupação dos espaços. A militância cultural petista, que sempre esteve presente nos grandes debates, precisa estar presente nas estruturas de governo, sob pena de não criarmos a forma e darmos a cara petista na gestão da cultura. Outro ponto fundamental na consolidação da aplicabilidade das políticas públicas que sempre defendemos está no reforço da manutenção ou mesmo surgimento dos conselhos municipais de cultura. São os conselhos que farão o trabalho de oferecer o contraponto necessário para que o debate macro seja sempre realizado da maneira mais democrática possível. 
     É imprescindível que façamos a leitura do desenvolvimento histórico da cultura no ambiente capitalista, principalmente em países em desenvolvimento, absortos numa época em que as artes vivem seu processo de reprodutibilidade técnica. 
Por este motivo, é preciso assumir o apanhado histórico no mundo da cultura, e o seu acúmulo de lutas por parte do PT. Não se podendo deixar que este acúmulo seja usado (e muitas vezes distorcido) de forma puramente eleitoral.