domingo, 26 de setembro de 2010

Voltemos à Esparta!


Conta a história que os espartanos, ao nascer, eram averiguados. Filhos que apresentassem quaisquer tipos de deficiência eram descartados, literalmente jogados fora. Desde o nascimento até à morte, o espartano pertencia ao Estado. Os recém-nascidos eram examinados por um conselho de anciãos que ordenava eliminar os que fossem portadores de deficiência física ou mental ou não fossem suficientemente robustos. Apenas os fortes e saudáveis eram aceitos. Eis o lado cruel de Esparta.
A partir dos 7 anos de idade, os pais (cidadãos) não mais comandavam a educação dos filhos. As crianças eram entregues à orientação do Estado, que tinha professores especializados para esse fim. Os jovens viviam em pequenos grupos, levando vidas muito austeras, realizavam exercícios de treino com armas e aprendiam as tácticas de formação. Em lugar de proteger os pés com calçados, as crianças eram obrigadas a andar descalças, a fim de aumentar a resistência dos pés. Usavam um só tipo de roupa o ano inteiro, para que aprendessem a suportar as oscilações do frio e do calor. A alimentação era bem controlada. Se algum jovem sentisse fome em demasia, era permitido que furtasse para conseguir alimentos. Castigavam-se, entretanto, aqueles que fossem apanhados roubando. Uma vez por ano, os meninos eram chicoteados em público, diante do altar de Ártemis (deusa grega vingativa, a quem se ofereciam muitos sacrifícios). Essa cerimônia constituía uma espécie de concurso público de resistência à dor física. Na adolescência, os jovens eram encarregados dos serviços de segurança na cidade. Qualquer cidadão adulto podia vigiá-los e puni-los. O respeito aos mais velhos era regra básica. Às refeições, por exemplo, os jovens deviam ficar calados, só respondendo de forma breve às perguntas que lhes fossem feitas pelos adultos. Com 7 anos, o jovem espartano entrava no exército. Mas só aos 30 anos de idade adquiria plenos direitos políticos, podendo, então, participar da Assembléia do Povo ou dos Cidadãos (Apelá).
Depois de concluído o período de formação educativa, os cidadãos de Esparta, entre os vinte e os sessenta anos, estavam obrigados a participar na guerra. Continuavam a viver em grupos e deviam tomar uma refeição diária nos chamados syssitia. (ver http://pt.wikipedia.org/wiki/Esparta).
Voltemos ao nosso tempo, século XXI. Jovens com ideais socialistas filiam-se a um partido político de massas, que em 30 anos de história fez ascender ao mais alto posto de nosso país um operário, metalúrgico, que, não fosse um partido socialista e voltados às lutas dos trabalhadores, jamais teria tido voz, muito menos se transformado no ícone da esquerda latino-americana.
Foi a história deste homem e a presença marcante na vida política do Brasil que fez do Partido dos Trabalhadores o caminho, enxergado por jovens de várias gerações, a ser trilhado na busca de uma sociedade mais humana, igualitária e justa. Foram exemplos de vida vividos ao longo destes trinta anos que transformaram a bandeira vermelha e a estrela em símbolos carregados dos mais nobres sentimentos e desejos coletivos.
Mas a mesma história quis nos contar, através de um fato, senão o fato mais marcante da história recente deste partido fruto de nossa “prematura” chegada ao poder do Estado, que velhos ditados, quando não enxergados pelos olhos envenenados com o doce encanto da cobiça e da arrogância, se fazem acontecer.
As lições aprendidas deixam marcas até hoje, e os processos decorrentes deste acontecimento ainda se desenrolam. Foram várias as avaliações e leituras feitas, algumas pronunciadas, outras guardadas nos pensamentos de quem as desenvolveu, entretanto, em todos ficou a sensação de que algo precisava mudar. E o processo de re-oxigenação foi iniciado. Os processos de eleições internas de 2007 e 2009 e as eleições setoriais demonstraram isto. Contudo, ainda não é o bastante.
O Partido dos Trabalhadores, no espaço de seu coletivo passou a questionar as tendências e suas correlações de existência. Todos procuraram se voltar para dentro de suas teses e rediscutir o discurso, mas não houve, de maneira consistente, ainda, mesmo que embora em tempo, uma rediscussão aberta e ampliada do discurso petista. O discurso que nos unifica, que nos fortalece, que nos revigora. O discurso que nos motiva e enche nossos corações e mentes do ávido desejo de ir às ruas e defender nossos ideais socialistas. E por falar em socialistas, como anda o nosso modus operandi? Passamos a desenvolver o comportamento leninista. O trato com aliados e adversários nos leva a esta constatação. Nossos líderes, e porque não chamá-los de ídolos, no justo - e insisto no quão justa é esta atitude – desejo de manter as conquistas e os avanços políticos alcançados, deixaram relegadas à própria sorte a formação de nossos jovens militantes. Deixamos de lado a importância de nossas tendências e passamos a reconhecer apenas a importância de nossas forças. Passamos a nos comportar como feudos, construídos em torno de nossas referências com mandato. É este mesmo o comportamento a ser consolidado? Não desejo entrar no quanto este comportamento influi e consolida a teoria do Projeto de Partido versus Projeto de Poder, já o fiz anteriormente, mas é fato que se torna cíclica a questão, e como sempre voltamos ao ponto de o quanto devemos dosar a produção dos dois projetos. Deve-se retomar este debate tão logo as eleições acabem, pois 2012 é logo ali.
Assim como em Esparta, o jovem filiado não possui referências para sua formação. Não falo apenas das referências históricas que nos ensinam a nossa trajetória - perguntem aos filiados mais recentes se estes sabem que foi Clímaco, ou a história de militantes históricos como Chico Buchinho, Tânia Magno, e outros - , mas as referências quotidianas, de ensinamento mesmo. Não acontecem mais as reuniões de tendência. Rareiam as plenárias e debates internos. E as discussões em torno do desenvolvimento de nossas propostas de políticas públicas para o conjunto da sociedade ficaram mais distantes dos companheiros. É mister que retomemos nossa formação partidária, ideológica, de comportamento e de discurso. Preparemos nossa base. Conversemos mais, vamos dialogar de maneira clara, com a mente aberta e o coração leve. Passado o embate político atual, proponho que vivenciemos mais o nosso partido, todos nós. E para isso, devemos olhar fundo nos olhos de nossa juventude petista.
Essa juventude, que ávida por aprender, foi lançada ao jogo político com poucas armas de defesa e ataque, com uma base de informações limitada, e há quem se divirta com seus erros primários. Será esta a maneira correta de prepará-los? Onde estão nossos professores? Onde estão aqueles que devem assumir a nossa formação e nos aprontar para a missão futura de assumir este partido e dar continuidade aos caminhos hoje trilhados por aqueles que estão no comando de nossos governos, de nossos diretórios, de nossos setoriais?
Voltem! Eu peço. Enxerguem a nossa pouca experiência e nos auxiliem. Estamos todos desejosos por aprender, por fazer o nosso melhor, por acertar e sermos merecedores de vossos reconhecimentos. Encham-se de paciência e boa vontade e nos preparem. Mostrem a si mesmos e a nosso povo que querem o melhor para o futuro de nossa sociedade e de nosso partido. Formem-nos. Dêem-nos a couraça e a maturidade política que tanto clamamos. Dêem-nos a mão e nos guiem. Não façam de nós filhos de vossa Esparta pura e simplesmente.

De volta ao mar!

     Bem-vindos de novo, navegantes! Para todos àqueles que já estavam acostumados a ler os textos que eu postava outrora, estou de volta! Aos que passam a ler a partir de agora, meu muito obrigado pelo tempo e atenção.
     Neste blog, estarei escrevendo sobre minhas impressões, avaliações e leituras acerca de variados assuntos, e é claro e principalmente sobre política. Fiquem à vontade para ler, reler, comentar, discordar. Conto com a meia dúzia de leitores que já liam o Farol Sergipe, e em especial com meu amigo Xurupinha, comentarista de bastidor, que nunca postava um comentário, mas que sempre me enviava seus e-mails rebatendo ou avaliando minha escrita.
     Não esperem por um blog cartesiano, preso em periodicidade. Novos posts à medida que o coração ou a razão pedirem espaço, e como cito no enunciado, trata-se apenas de minha opinião, nada mais.
     Aqui, permito a mim a vocês toda a democracia de opinião e o livre pensar. Aqui, a única cesura é com a falta da verdade e a dissimulação. Duvido, logo penso. Penso, logo existo. Então, existamos!
     Encerro este primeiro post, então, com um acitação que me parece oportuna:
"O papel do Estado (...) é e deve ser, foco de representações novas, originais, as quais devem por a sociedade em condições de conduzir-se com maior inteligência que quando é simplesmente movida dos sentimentos obscuros, a agir dentro dela."
Émile Durkheim