quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Tempo, convicções e ações. Contradições vistas (e revistas) nas eleições 2012.

     Aguardei alguns dias antes de produzir a minha análise acerca do pleito eleitoral que acabamos de vivenciar. Queria estar mais à vontade, e passado o calor do momento, me sinto mais seguro para desenvolver uma análise racional (e não emotiva) de alguns fatores interessantes que observei durante os últimos meses. Antes de qualquer coisa, explico e explicito que aqui exponho a minha opinião individual, fruto de minhas avaliações e observações. Fiquem à vontade para concordar ou não.
    O primeiro ponto sob o qual concentrei minha atenção foi na linguagem de comunicação utilizada pelas campanhas majoritárias. Como bem observou George Lemos, em seu artigo “Cresceu, mas não levou.”, publicado em nosso blog, o candidato do bloco situacionista não conseguiu desenvolver uma conexão sólida com o eleitor. A campanha mostrou-se morna, não empolgou, não demonstrou uma seqüência lógica compreensível na construção do seu discurso. Assistam aos programas de TV em sequência e penso que entenderão do que falo. O principal candidato de oposição, e vitorioso ao final do certame, apresentou um programa bem mais simples e mais bem padronizado graficamente, com uma linguagem mais leve e dinâmica, contudo, assim como todos os outros, foi de uma densidade político ideológica muito baixa, e os argumentos em geral foram sempre frágeis e superficiais, repito, em todas as candidaturas majoritárias.
Dos demais candidatos de oposição, destaque para a melhoria significativa da produção do programa de TV da Frente de Esquerda. Conseguiu criar uma boa expectativa, mas que caiu por terra com o fraco desempenho de sua candidata no principal debate na televisão aberta. A candidatura do Partido Verde mostrou-se sem força, sem graça, e sem conteúdo. Pareceu prenunciar a morte eleitoral de um partido que, nacionalmente, parecia enfim impulsionado pelo resultado obtido em 2010.
    Situação semelhante viveu a candidatura do PPS. Isolado no campo de alianças e solitário internamente, usou de maneira completamente equivocada a liberdade de discurso que possuía. Criticou a ausência de debate e não promoveu o debate (o partido tinha essa responsabilidade, muito mais que o candidato); criticou a ausência de propostas e não apresentou as suas propostas; questionou o passado político dos demais concorrentes e esqueceu-se do seu próprio passado. O resultado de tamanha incoerência política e de comunicação? Rejeição esmagadora e quase que absoluta do eleitorado, que, percebida, culminou na desistência pública (e ao vivo) do candidato. E este ato de renúncia ainda deverá ser observado com atenção, pois pode ter levado o político em questão para uma faixa perigosíssima – e talvez irreversível – onde ficam os políticos folclóricos e sem credibilidade.
    Porém, talvez a grande contribuição da campanha do candidato do PPS tenha sido a correção (a bem da verdade pontual) de alguns conteúdos apresentados, o que me leva a avaliar que o erro foi de forma e de método, principalmente.
    Feita esta breve análise da comunicação das campanhas majoritárias, atenuo o pouco sucesso a um fato, digamos, pitoresco desta eleição: a ausência de debate em torno de um tema central, principal, o “grande tema”, como tecnicamente costuma-se chamar. Particularmente, apostei a um ano que o debate principal dar-se-ia em torno da mobilidade urbana, mas, definitivamente, o que vi foi um debate "do trenzinho versus o ônibus sanfona". Passou-se ao largo de um debate apropriado da questão. Falou-se o óbvio geral do tema e não se apresentou, de nenhuma parte, propostas concretas.
     Mas teria sido este o principal problema, ou a principal observação a ser feita no momento de avaliar o humor do eleitorado, para a construção dos discursos? Penso que não. Ao analisar o humor do eleitorado aracajuano era latente – e por isso mesmo de fácil percepção – que, por melhor que tivesse sido construído o discurso do candidato da situação ou das oposições, o eleitor tinha claro, para si, o cumprimento de um recado dado em 2010: o de que não estava satisfeito com a condução dos governos estadual e municipal, e coube nesta eleição ratificar este sentimento. É importante observar também que este recado teve endereço e nome, e que por mais que se tentassem criar vacinas de comunicação, era previsível que não surtiriam o efeito necessário. Aponto como atenuante do insucesso das estratégias de comunicação, principalmente da candidatura de situação, o fato de que o processo de reversão da rejeição apresentada desde 2010 dependia decisivamente de ações conjunturais na esfera política, e na mudança da linguagem e da forma da comunicação governamental. Se este trabalho tivesse sido feito a tempo, os resultados poderiam ter sido bem mais satisfatórios.
     Superada a primeira parte de minha análise, passemos adiante. Enxerguei nestas eleições que, observadas o máximo de candidaturas que consegui acompanhar, grosso modo, esta foi a campanha mais profissionalizada dos últimos tempos, e em todos os sentidos. Havia mais interesses e lideranças ávidas pela sobrevivência política do que pudessem suportar as vinte e quatro vagas em disputa. E só que luta ou já lutou pela própria sobrevivência é capaz de dimensionar o que digo.
    Isto posto, o planejamento antecipado, a construção com foco, o discurso bem elaborado, conciso, coerente, e com conteúdo de fácil assimilação fez (e faz), sim, a diferença para muitos dos candidatos eleitos. Infelizmente a desculpa de que custa caro investir numa boa equipe de comunicação profissionalizada foi novamente usada por grande parte dos candidatos (derrotados) – e em grossa maioria os ligados a partidos de esquerda – o que afirmo, é um mito.
    Se há planejamento antecipado, há previsão de custos, e o investimento em comunicação é diluído ao longo dos quatro anos. Sim! Quatro anos! Ou será que ainda há quem pense que se constrói uma candidatura da noite para o dia? Existem fases, etapas e avaliações a serem respeitadas, num processo normal e profissional de construção, a não ser que o pretenso candidato tenha aporte financeiro e político tão seguro que lhe seja permitido entrar na disputa mais proximamente ao pleito. Planejar é preciso, negociar é fundamental, e profissionalizar é decisivo!
    E é aqui que a visão técnica da construção de uma campanha bate de frente com a visão – que se confunde com convicção – política do candidato. Poucos aceitam a orientação técnica, principalmente no que se refere a Comunicação, quando pior, vêem-se capazes de desempenhar/acumular a função, confundindo impressões e opiniões com saberes.
    Outro erro clássico acentuado na última eleição foi o de leitura e análise de conjuntura. Ao não definir claramente, para si e para a sua equipe de campanha seu mote, posicionamento e perfil, muitos candidatos permaneceram no que podemos chamar de “zona da pasmaceira”, explicando, não desenvolveram ou apresentaram qualquer característica que os destacasse dos demais. É conseqüência do erro de leitura e análise a escolha equivocada de estratégia, que pode ser acentuada se não houver um planejamento prévio. Há de se observar – e aconselhar – que a leitura e análise devem ser feitas de maneira plural. É extremamente perigoso quando o candidato depende de uma leitura única, por mais embasada que seja.
     Por fim, vou um pouco além do que disse Cláudio Nunes em seu artigo “Aracaju: fecha-se um ciclo político”, publicado em seu blog na Infonet em 08/10/2012: Esta eleição não representa apenas o fim da permanência de um bloco à frente da PMA. Representa também o fim de uma geração de políticos que, ao não perceberem a evolução e profissionalização na construção dos processos e dos discursos eleitorais, foi esquecido pelo eleitor e perdeu seu valor político. Não se pode confundir convicção com teimosia. A história é implacável em sua narrativa, e o tempo cruel em seu processo de seleção.

Por Oswaldo Vilela