Lembro-me do tempo em que eu e meu pai íamos ao Batistão assistir os jogos do Campeonato Sergipano. Naquele tempo, sem as maravilhas da Sky e net transmitindo os jogos da primeira divisão nacional, optávamos por ir à campo ver o Sergipe jogar ao invés de escutar no rádio os jogos do Flamengo e do Botafogo. Nada se compara à assistir uma partida de futebol no estádio. A emoção, o clima, todo o entorno é fascinante para quem gosta de futebol. Tempos bons, o de Sandoval, Elenílson, Leninton, Rocha. Lembro-me bem do Sergipe disputando o quadrangular final da série B à época. Quando anão ia ao estádio com meu pai, organizávamos a turma da rua para ir aos jogos.
Tempos idos. Não voltam mais. O futebol sergipano entrou em uma linha decrescente que já não parece ter fim. Quando penso que chegamos ao fundo do poço, infelizmente assisto perplexo que podemos chegar mais fundo ainda. A participação de nossos clubes nos campeonatos nacionais é hilária, para não classificar de vergonhosa. A salvo a campanha do Confiança na Série C há duas temporadas atrás, de resto foram apenas acúmulos de resultados negativos. O Sergipe conseguiu ficar fora da Série D, última divisão do futebol brasileiro.
Onde mais de tão fundo e negativo podemos ir? Nossos clubes estão completamente desestruturados, entregues a nostalgia de um passado longínquo, há anos temos um campeonato estadual que não empolga, brigas - e até mortes - entre as torcidas organizadas, times inteiros contratados e dispensados, num absoluto exemplo de falta de planejamento estratégico e esportivo. Esta é a realidade, de fato, do futebol sergipano. O que falta mais acontecer ao nosso futebol?
Conversando pelo twitter com o jornalista Douglas Magalhães, este me disse que o problema do futebol sergipano também envolve a questão política. Que seja, desde que não seja política partidária. Não há como os dirigentes sergipanos justificarem o atual estado do esporte bretão em nossas terras senão pela falta de compromisso com o seu desenvolvimento, e esperar simplesmente pelo apoio e incentivo dos governos estadual e municipais é de um comodismo absurdo. Que o Governo fomente políticas de incentivo para levar o torcedor aos estádios, ou mesmo que auxilie na recuperação das praças esportivas é importante, mas não é tudo e nem pode ser o principal.
Investir no desenvolvimento e estruturação das categorias de base dos clubes e suas participações nos campeonatos juvenis e juniores; profissionalizar os setores de marketing e gerência de futebol; contratar e investir no desenvolvimento de profissionais especializados na questão esportiva, para um projeto de desenvolvimento sério e de longo prazo são ações urgentes.
Aqui do lado, na Bahia, o tricolor de aço caminha para retornar a Série A, lugar onde o Vitória já está há um bom tempo. Na vizinha Alagoas, a situação não é tão melhor quanto a nossa, mas é sim mais interessante. Quantos atletas Sergipe já revelou ao futebol nacional? Vários e bons.
O futebol sergipano precisa entrar na pauta do debate das políticas públicas e de investimento privado rapidamente. Para isso, precisamos tratar da questão com seriedade, fazer uma leituras desapaixonada e racional da situação e debater com todos os segmentos - torcedores, dirigentes, atletas, entidades esportivas e clubes - caminhos e propostas. É certo que sem a parceria do Governo do Estado e prefeituras a sustentação e o fomento de qualquer proposta de reformulação de nosso futebol parece ser inviável num primeiro momento, mas estes devem ser a mola propulsora de um primeiro momento, e não o eterno sustentáculo.
Sergipe e Confiança, nossos principais clubes, devem ser o exemplo desta retomada, mas há de se ter atenção também com outros grandes clubes de nossa história. Como anda a vida de Maruinense, Amadense, Lagartense, América de Própriá, São Domingos, Boca Júniors, River Plate? Enfim, a interiorização também deve constar na pauta de ações estratégicas, para fazer do renascimento do futebol sergipano um acontecimento de dimensão estadual. Também deve ser ação na reconstrução de nosso futebol o investimento e respaldo das escolinhas de futebol e o apoio aos campeonatos amadores. Hoje são vários os clubes brasileiros que possuem franquias de escolinhas. Porque não contatá-los e avaliar a possibilidade de trazê-las para Sergipe?
Enfim, caminhos, propostas e idéias não faltam, o que falta é vontade mesmo de colocá-las em prática de maneira séria, profissional e contínua. Falta vontade política, que seja.