domingo, 12 de dezembro de 2010

Wikileaks, a novela diplomática do ano* (por Renaud Lambert e Philippe Rivière)


O jornalista australiano Julian Assange, responsável pelo site Wikileaks, não para de divulgar informações, antes confidenciais, sobre guerras, bancos, governos e relações diplomáticas. E ele promete, muito ainda está por vir.
por Renaud Lambert e Philippe Rivière

Ao anunciar, em 28 de novembro, que divulgaria 251.287 telegramas diplomáticos internos do departamento de Estado americano, o site Wikileaks deixou as chancelarias em alvoroço. Nos Estados Unidos, a secretária de Estado, Hillary Clinton, insurgiu-se contra o que chamou de “ataque aos interesses diplomáticos estadunidenses e da comunidade internacional”. Ainda que não se possa encontrar nesses documentos “a” verdade absoluta, o site desvenda, em primeira mão, uma versão “bruta” da percepção de mundo dos diplomatas estadunidenses, que também transparece na transcrição de suas conversas com seus aliados e outros líderes.
Vimos, durante a conferência de Copenhague sobre o clima, como um hacker conseguiu espalhar, em praça pública, todas as comunicações particulares dos pesquisadores implicados no estudo das mudanças climáticas, provocando reações fulminantes.  Nesse caso, não houve revelações, mas a divulgação de e-mails que desestabilizaram a comunidade científica em um momento crucial. Entretanto, eram apenas trocas de mensagens entre universitários. Com as comunicações do departamento de Estado, entramos em uma nova dimensão do furto virtual. Piratear a Siprnet, rede privada da diplomacia estadunidense, e mostrar que até mesmo os EUA não podem garantir a confidencialidade de suas comunicações, é, sem dúvida, o roubo do século...
Após sua primeira jogada de mestre – a publicação de documentos sobre o banco islandês Kaupthing Bank –, a organização do jornalista australiano Julian Assange reiterou sua façanha ao publicar o vídeo de um "incidente" das forças estadunidenses no Iraque e depois os relatórios sobre o Afeganistão. Nesses dois últimos casos, trata-se de uma publicação em massa de observações de campo que ilustram  o dia-a-dia dessas guerras. Desta vez, a Wikileaks parece ter mudado sua estratégia de publicação.Frustrado por uma repercussão da mídia que se limitava muitas vezes a falar do funcionamento do site em si ou da personalidade controversa de seu líder carismático, Assange desejava controlar o ritmo de revelação de seus documentos e associou-se a jornais prontos para trabalhar sobre cada um deles, soltando-os a conta gotas: "As comunicações das embaixadas serão divulgadas por etapas no decorrer dos próximos meses.Os teores desses telegramas são de tal importância e sua cobertura geográfica de tal extensão, que proceder de outra maneira não faria justiça a esses documentos.”
Nos primeiros dias, os cinco jornais associados à Wilileaks tiveram acesso a textos que mostravam o quanto os dirigentes de vários países árabes podiam se mostrar críticos em relação ao Irã, empregando em suas discussões com os diplomatas estadunidenses um vocabulário e argumentos completamente diferentes dos usados com seus povos. Os telegramas diplomáticos também revelaram as ordens dadas por Hillary Clinton a sua equipe de diplomacia para que fossem espionados executivos da Organização das Nações Unidas, anotando suas impressões biométricas, “nomes, títulos e outras informações contidas nos cartões de visita; números de telefone fixos, celulares, de pagers e de fax; contatos telefônicos e listas de e-mails; senhas de internet e intranet; números de cartões de crédito; números de cartões de fidelidade de companhias aéreas; horários de trabalho”. A imprensa se divertiu ao ver como os funcionários estadunidenses qualificavam os dirigentes europeus, fossem eles russos ou líbios.
Mas é muito cedo para fazer um balanço daquilo que poderá se tornar uma novela inédita e longa – ainda mais porque Assange prometeu atacar também o setor das empresas privadas, com revelações sobre um “grande banco estadunidense”.
Para ilustrar o potencial desses documentos, o Le Monde Diplomatique debruçou-se sobre um deles, que traz uma luz complementar para a atualidade recente.Trata-se do telegrama “Tegucigalpa 000645” que se refere a Honduras. Nele se vê que, caso o departamento de Estado, de fato, tenha permitido que o governo do presidente Manuel Zelaya caísse em 28 de junho de 2009, seu embaixador em Honduras, Hugo Llorens, foi categórico em classificar o que ocorrera como um golpe de Estado.
No dia 24 de julho de 2009, aproximadamente um mês depois dos acontecimentos, Llorens enviou um telegrama para vários interlocutores, entre os quais Thomas Shannon, o atual embaixador dos Estados Unidos no Brasil, que ocupava na época o cargo de secretário de Estado adjunto nos assuntos do continente americano que escreveu: “A análise da embaixada é indiscutível. No dia 28 de junho as forças armadas, a Corte Suprema e o Congresso conspiraram no âmbito do que constitui um golpe de Estado ilegal e anticonstitucional contra o poder executivo (mesmo reconhecendo que, a primeira vista, pudessem existir elementos indicando que Zelaya se colocou na ilegalidade e violou a Constituição).Também não há duvidas que a tomada de poder por Roberto Micheletti [presidente de fato a partir de 28 de junho de 2009] tenha sido ilegítima.”
O diplomata listou “os argumentos, muitas vezes ambíguos” dos golpistas para justificar a legalidade de sua manobra: “Zelaya se colocou fora da lei (uma suposição que nunca se sustentou); Zelaya pediu demissão (uma invenção); Zelaya tinha a intenção de prolongar a duração de seu mandato (uma simples conjectura)”. Llorens concluiu: “Pensamos que nenhum desses argumentos tem o mínimo valor segundo a constituição hondurenha. Alguns são simplesmente falsos. Outros se baseiam sobre suposições ou racionalizações a posteriori de uma ação manifestamente ilegal”.
Observando que “são muitos os oficiais hondurenhos, inclusive presidentes, desde o primeiro governo eleito sob a constituição de 1982, que propuseram autorizar a reeleição de um presidente no fim do seu mandato” e que “nunca se achou necessário destituí-los de seu posto para tal”, o diplomata estadunidense resumiu: “Os acontecimentos de 28 de junho somente podem ser considerados como um golpe de Estado do poder legislativo – com o apoio do poder judiciário e das Forças Armadas - contra o poder executivo.”
Contudo, a administração americana contentou-se em suspender o pagamento de uma fração mínima do auxílio que destinava ao país (de um montante de US$ 31 milhões).Hillary Clinton, próxima do lobista Lanny Davis – que rapidamente se colocou à serviço dos putchistas hondurenhos –, anunciou a retomada do financiamento no dia 4 de março de 2010. No mesmo dia, ela convidava a Organização dos Estados Americanos (OEA) a reconhecer o governo de Pofirio Lobo, vencedor, em 29 de novembro de 2009, de um escrutínio ilegítimo (uma vez que organizado por um governo ilegítimo), e empossado desde o dia 27 de janeiro de 2010. Por outro lado, Hillary o cumprimentava por ter “restaurado a democracia” em Honduras.
Desde a chegada de Lobo ao poder, diversos advogados foram sequestrados ou intimidados. Nove jornalistas, assim como várias dezenas de camponeses e militantes políticos foram assassinados.

(*) Extraído de Le Monde Diplomatique Brasil - http://diplomatique.uol.com.br/acervo.php?id=2957

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Cultura em abundância!

Finda as eleições, o povo brasileiro optou pela continuidade de um modelo de condução do país que respeita, governa, dialoga e direciona suas ações para o seu principal personagem e verdadeiro protagonista: o povo brasileiro.
Para isso, foi necessária a aplicação na quebra de paradigmas sob os quais se construíam as políticas públicas de Estado neste país, mudando o foco e o conceito, principalmente mudando o conceito de resultado, e, neste sentido, atenho-me às mudanças no ambiente cultural.
O Ministério da Cultura viveu verdadeira revolução - positiva, registro! - com o ministro Gilberto Gil quando de sua passagem à frente da pasta. Ganhou corpo e músculo político, abriu diálogo franco, fraterno e construtivo com os vários segmentos da cadeia cultural; reconstruiu a visão de economia da cultura ao dar peso às demandas que emanam do trabalhador da cultura; e ampliou e diversificou a quantidade de projetos na área. Este trabalho foi ampliado e a visão estratégica mantida pelo ministro Juca Ferreira. Em dezembro, ao final dos oito anos do governo do presidente Lula, o Ministério da Cultura terá uma previsão orçamentária para 2011 dez vezes maior do que possuía em 2003, quando de seu início, de acordo com os dados oficiais.
Na política de ações, o debate sobre a PEC 150, que trata do orçamento vinculado em, no mínimo, 2% para a União, 1,5% para os Estados e 1% para os Municípios, merece ganhar amplitude no debate e entrar na pauta institucional dos estados, uma vez que, me parece, seja óbvia a sua importância.
Outros pontos de conquista importantes são a implantação nos estados dos Pontos de Cultura; o Sistema Nacional de Cultura (SNC); o Plano Nacional de Cultura (PNC); os Fundos Estaduais de Cultura; a revisão da Lei Rouanet; e a reformulação dos Conselhos Estaduais e Municipais de Cultura. Pontos importantes, que aguardam consolidação com a continuidade do projeto de país, e esta consolidação parece-me firme, quando observa-se o conteúdo do documento assinado pela presidente eleita da república, então candidata Dilma Roussef, com o título "13 Pontos da Cultura com Dilma".
Em Sergipe, os avanços e processos de mudança iniciados pelo mestre Luiz Alberto, e continuados pela versátil e articulada secretária Eloísa Galdino merecem o reconhecimento, o aplauso e o apoio de toda a militância cultural, e o momento deve ser agora de união de forças em torno de um bem maior, que é a Cultura Sergipana.
Aguardo com ansiedade o chamamento público para o debate amplo, fraterno e construtivo, para juntos, todos nós, militantes da área cultural, continuarmos avançando, agora, mais do que nunca, com os encaminhamentos da fazenda e Procuradoria para o novo Marco regulatório da Cultura em Sergipe.
O que vejo, de fato, é a construção avançada de um processo de reconhecimento de nossa capacidade produtiva, intelectual, aflorando nossa sergipanidade, e gerando cultura, mas cultura em abundância!

sábado, 16 de outubro de 2010

O Futebol Sergipano

Lembro-me do tempo em que eu e meu pai íamos ao Batistão assistir os jogos do Campeonato Sergipano. Naquele tempo, sem as maravilhas da Sky e net transmitindo os jogos da primeira divisão nacional, optávamos por ir à campo ver o Sergipe jogar ao invés de escutar no rádio os jogos do Flamengo e do Botafogo. Nada se compara à assistir uma partida de futebol no estádio. A emoção, o clima, todo o entorno é fascinante para quem gosta de futebol. Tempos bons, o de Sandoval, Elenílson, Leninton, Rocha. Lembro-me bem do Sergipe disputando o quadrangular final da série B à época. Quando anão ia ao estádio com meu pai, organizávamos a turma da rua para ir aos jogos.
Tempos idos. Não voltam mais. O futebol sergipano entrou em uma linha decrescente que já não parece ter fim. Quando penso que chegamos ao fundo do poço, infelizmente assisto perplexo que podemos chegar mais fundo ainda. A participação de nossos clubes nos campeonatos nacionais é hilária, para não classificar de vergonhosa. A salvo a campanha do Confiança na Série C há duas temporadas atrás, de resto foram apenas acúmulos de resultados negativos. O Sergipe conseguiu ficar fora da Série D, última divisão do futebol brasileiro.
Onde mais de tão fundo e negativo podemos ir? Nossos clubes estão  completamente desestruturados, entregues a nostalgia de um passado longínquo, há anos temos um campeonato estadual que não empolga, brigas - e até mortes - entre as torcidas organizadas, times inteiros contratados e dispensados, num absoluto exemplo de falta de planejamento estratégico e esportivo. Esta é a realidade, de fato, do futebol sergipano. O que falta mais acontecer ao nosso futebol?
Conversando pelo twitter com o jornalista Douglas Magalhães, este me disse que o problema do futebol sergipano também envolve a questão política. Que seja, desde que não seja política partidária. Não há como os dirigentes sergipanos justificarem o atual estado do esporte bretão em nossas terras senão pela falta de compromisso com o seu desenvolvimento, e esperar simplesmente pelo apoio e incentivo dos governos estadual e municipais é de um comodismo absurdo. Que o Governo fomente políticas de incentivo para levar o torcedor aos estádios, ou mesmo que auxilie na recuperação das praças esportivas é importante, mas não é tudo e nem pode ser o principal.
Investir no desenvolvimento e estruturação das categorias de base dos clubes e suas participações nos campeonatos juvenis e juniores; profissionalizar os setores de marketing e gerência de futebol; contratar e investir no desenvolvimento de profissionais especializados na questão esportiva, para um projeto de desenvolvimento sério e de longo prazo são ações urgentes.
Aqui do lado, na Bahia, o tricolor de aço caminha para retornar a Série A, lugar onde o Vitória já está há um bom tempo. Na vizinha Alagoas, a situação não é tão melhor quanto a nossa, mas é sim mais interessante. Quantos atletas Sergipe já revelou ao futebol nacional? Vários e bons.
O futebol sergipano precisa entrar na pauta do debate das políticas públicas e de investimento privado rapidamente. Para isso, precisamos tratar da questão com seriedade, fazer uma leituras desapaixonada e racional da situação e debater com todos os segmentos - torcedores, dirigentes, atletas, entidades esportivas e clubes - caminhos e propostas. É certo que sem a parceria do Governo do Estado e prefeituras a sustentação e o fomento de qualquer proposta de reformulação de nosso futebol parece ser inviável num primeiro momento, mas estes devem ser a mola propulsora de um primeiro momento, e não o eterno sustentáculo.
Sergipe e Confiança, nossos principais clubes, devem ser o exemplo desta retomada, mas há de se ter atenção também com outros grandes clubes de nossa história. Como anda a vida de Maruinense, Amadense, Lagartense, América de Própriá, São Domingos, Boca Júniors, River Plate? Enfim, a interiorização também deve constar na pauta de ações estratégicas, para fazer do renascimento do futebol sergipano um acontecimento de dimensão estadual. Também deve ser ação na reconstrução de nosso futebol o investimento e respaldo das escolinhas de futebol e o apoio aos campeonatos amadores. Hoje são vários os clubes brasileiros que possuem franquias de escolinhas. Porque não contatá-los e avaliar a possibilidade de trazê-las para Sergipe?
Enfim, caminhos, propostas e idéias não faltam, o que falta é vontade mesmo de colocá-las em prática de maneira séria, profissional  e contínua. Falta vontade política, que seja.

domingo, 26 de setembro de 2010

Voltemos à Esparta!


Conta a história que os espartanos, ao nascer, eram averiguados. Filhos que apresentassem quaisquer tipos de deficiência eram descartados, literalmente jogados fora. Desde o nascimento até à morte, o espartano pertencia ao Estado. Os recém-nascidos eram examinados por um conselho de anciãos que ordenava eliminar os que fossem portadores de deficiência física ou mental ou não fossem suficientemente robustos. Apenas os fortes e saudáveis eram aceitos. Eis o lado cruel de Esparta.
A partir dos 7 anos de idade, os pais (cidadãos) não mais comandavam a educação dos filhos. As crianças eram entregues à orientação do Estado, que tinha professores especializados para esse fim. Os jovens viviam em pequenos grupos, levando vidas muito austeras, realizavam exercícios de treino com armas e aprendiam as tácticas de formação. Em lugar de proteger os pés com calçados, as crianças eram obrigadas a andar descalças, a fim de aumentar a resistência dos pés. Usavam um só tipo de roupa o ano inteiro, para que aprendessem a suportar as oscilações do frio e do calor. A alimentação era bem controlada. Se algum jovem sentisse fome em demasia, era permitido que furtasse para conseguir alimentos. Castigavam-se, entretanto, aqueles que fossem apanhados roubando. Uma vez por ano, os meninos eram chicoteados em público, diante do altar de Ártemis (deusa grega vingativa, a quem se ofereciam muitos sacrifícios). Essa cerimônia constituía uma espécie de concurso público de resistência à dor física. Na adolescência, os jovens eram encarregados dos serviços de segurança na cidade. Qualquer cidadão adulto podia vigiá-los e puni-los. O respeito aos mais velhos era regra básica. Às refeições, por exemplo, os jovens deviam ficar calados, só respondendo de forma breve às perguntas que lhes fossem feitas pelos adultos. Com 7 anos, o jovem espartano entrava no exército. Mas só aos 30 anos de idade adquiria plenos direitos políticos, podendo, então, participar da Assembléia do Povo ou dos Cidadãos (Apelá).
Depois de concluído o período de formação educativa, os cidadãos de Esparta, entre os vinte e os sessenta anos, estavam obrigados a participar na guerra. Continuavam a viver em grupos e deviam tomar uma refeição diária nos chamados syssitia. (ver http://pt.wikipedia.org/wiki/Esparta).
Voltemos ao nosso tempo, século XXI. Jovens com ideais socialistas filiam-se a um partido político de massas, que em 30 anos de história fez ascender ao mais alto posto de nosso país um operário, metalúrgico, que, não fosse um partido socialista e voltados às lutas dos trabalhadores, jamais teria tido voz, muito menos se transformado no ícone da esquerda latino-americana.
Foi a história deste homem e a presença marcante na vida política do Brasil que fez do Partido dos Trabalhadores o caminho, enxergado por jovens de várias gerações, a ser trilhado na busca de uma sociedade mais humana, igualitária e justa. Foram exemplos de vida vividos ao longo destes trinta anos que transformaram a bandeira vermelha e a estrela em símbolos carregados dos mais nobres sentimentos e desejos coletivos.
Mas a mesma história quis nos contar, através de um fato, senão o fato mais marcante da história recente deste partido fruto de nossa “prematura” chegada ao poder do Estado, que velhos ditados, quando não enxergados pelos olhos envenenados com o doce encanto da cobiça e da arrogância, se fazem acontecer.
As lições aprendidas deixam marcas até hoje, e os processos decorrentes deste acontecimento ainda se desenrolam. Foram várias as avaliações e leituras feitas, algumas pronunciadas, outras guardadas nos pensamentos de quem as desenvolveu, entretanto, em todos ficou a sensação de que algo precisava mudar. E o processo de re-oxigenação foi iniciado. Os processos de eleições internas de 2007 e 2009 e as eleições setoriais demonstraram isto. Contudo, ainda não é o bastante.
O Partido dos Trabalhadores, no espaço de seu coletivo passou a questionar as tendências e suas correlações de existência. Todos procuraram se voltar para dentro de suas teses e rediscutir o discurso, mas não houve, de maneira consistente, ainda, mesmo que embora em tempo, uma rediscussão aberta e ampliada do discurso petista. O discurso que nos unifica, que nos fortalece, que nos revigora. O discurso que nos motiva e enche nossos corações e mentes do ávido desejo de ir às ruas e defender nossos ideais socialistas. E por falar em socialistas, como anda o nosso modus operandi? Passamos a desenvolver o comportamento leninista. O trato com aliados e adversários nos leva a esta constatação. Nossos líderes, e porque não chamá-los de ídolos, no justo - e insisto no quão justa é esta atitude – desejo de manter as conquistas e os avanços políticos alcançados, deixaram relegadas à própria sorte a formação de nossos jovens militantes. Deixamos de lado a importância de nossas tendências e passamos a reconhecer apenas a importância de nossas forças. Passamos a nos comportar como feudos, construídos em torno de nossas referências com mandato. É este mesmo o comportamento a ser consolidado? Não desejo entrar no quanto este comportamento influi e consolida a teoria do Projeto de Partido versus Projeto de Poder, já o fiz anteriormente, mas é fato que se torna cíclica a questão, e como sempre voltamos ao ponto de o quanto devemos dosar a produção dos dois projetos. Deve-se retomar este debate tão logo as eleições acabem, pois 2012 é logo ali.
Assim como em Esparta, o jovem filiado não possui referências para sua formação. Não falo apenas das referências históricas que nos ensinam a nossa trajetória - perguntem aos filiados mais recentes se estes sabem que foi Clímaco, ou a história de militantes históricos como Chico Buchinho, Tânia Magno, e outros - , mas as referências quotidianas, de ensinamento mesmo. Não acontecem mais as reuniões de tendência. Rareiam as plenárias e debates internos. E as discussões em torno do desenvolvimento de nossas propostas de políticas públicas para o conjunto da sociedade ficaram mais distantes dos companheiros. É mister que retomemos nossa formação partidária, ideológica, de comportamento e de discurso. Preparemos nossa base. Conversemos mais, vamos dialogar de maneira clara, com a mente aberta e o coração leve. Passado o embate político atual, proponho que vivenciemos mais o nosso partido, todos nós. E para isso, devemos olhar fundo nos olhos de nossa juventude petista.
Essa juventude, que ávida por aprender, foi lançada ao jogo político com poucas armas de defesa e ataque, com uma base de informações limitada, e há quem se divirta com seus erros primários. Será esta a maneira correta de prepará-los? Onde estão nossos professores? Onde estão aqueles que devem assumir a nossa formação e nos aprontar para a missão futura de assumir este partido e dar continuidade aos caminhos hoje trilhados por aqueles que estão no comando de nossos governos, de nossos diretórios, de nossos setoriais?
Voltem! Eu peço. Enxerguem a nossa pouca experiência e nos auxiliem. Estamos todos desejosos por aprender, por fazer o nosso melhor, por acertar e sermos merecedores de vossos reconhecimentos. Encham-se de paciência e boa vontade e nos preparem. Mostrem a si mesmos e a nosso povo que querem o melhor para o futuro de nossa sociedade e de nosso partido. Formem-nos. Dêem-nos a couraça e a maturidade política que tanto clamamos. Dêem-nos a mão e nos guiem. Não façam de nós filhos de vossa Esparta pura e simplesmente.

De volta ao mar!

     Bem-vindos de novo, navegantes! Para todos àqueles que já estavam acostumados a ler os textos que eu postava outrora, estou de volta! Aos que passam a ler a partir de agora, meu muito obrigado pelo tempo e atenção.
     Neste blog, estarei escrevendo sobre minhas impressões, avaliações e leituras acerca de variados assuntos, e é claro e principalmente sobre política. Fiquem à vontade para ler, reler, comentar, discordar. Conto com a meia dúzia de leitores que já liam o Farol Sergipe, e em especial com meu amigo Xurupinha, comentarista de bastidor, que nunca postava um comentário, mas que sempre me enviava seus e-mails rebatendo ou avaliando minha escrita.
     Não esperem por um blog cartesiano, preso em periodicidade. Novos posts à medida que o coração ou a razão pedirem espaço, e como cito no enunciado, trata-se apenas de minha opinião, nada mais.
     Aqui, permito a mim a vocês toda a democracia de opinião e o livre pensar. Aqui, a única cesura é com a falta da verdade e a dissimulação. Duvido, logo penso. Penso, logo existo. Então, existamos!
     Encerro este primeiro post, então, com um acitação que me parece oportuna:
"O papel do Estado (...) é e deve ser, foco de representações novas, originais, as quais devem por a sociedade em condições de conduzir-se com maior inteligência que quando é simplesmente movida dos sentimentos obscuros, a agir dentro dela."
Émile Durkheim