sexta-feira, 2 de março de 2012

Produzir. Consolidar. Avançar.

"A dualidade entre fatos e decisões leva à validação do conhecimento fundado nas ciências da natureza e desta forma elimina-se a práxis vital do âmbito destas ciências. A divisão positivista entre valores e fatos, longe de indicar uma solução, define um problema.”
Jürgen Habermas

     Em meados do século XIX, o mundo vivia a experiência do fato de que as potências européias começavam a reestruturar a sistemática metodológica de sua dominação perante os povos africanos. Deixava-se de lado a dominação pela força e poderio militar e dava-se início ao processo de dominação econômica e intelectual sobre estes povos. 
   Este processo de dominação confirmou-se ao passar do tempo muito mais cruel e insensível, consolidando de maneira vil e maniqueísta o processo de evolução formativa de um dos centros de cultura mais importantes do globo, a África. 
     Sendo assim, fez-se mister o surgimentos de focos de resistência em todo o globo. Resistência não somente ao exercício da dominação imposta pelos tentáculos suaves e sedutores da globalização, mas ao sério risco de extinção em cadeia de vários e importantes núcleos geradores de cultura. Um risco e um grave problema para todo ator/militante cultural. 
     Acompanhando este processo muito de perto, e muitas vezes sendo dele protagonista, os Estados Unidos transformaram-se no maior desenvolvedor do processo de dominação econômico-intelectual. Sua capacidade de entender e buscar alternativas para reorganizar e retroalimentar essa dominação foi um dos pilares que tornaram a América o senhor do mundo, e por que não dizer, o senhor da guerra. 
     E decorrente deste contexto está o processo que, neste momento, nos interessa analisar, a forma e a práxis dos governos petistas em desenvolver as políticas públicas produzidas por seus setoriais contra o exercício da dominação cultural por parte da elite dominante. 
     A massificação do comportamento cultural baseado no “hambúrguer com coca-cola e calça jeans” destruiu por completo histórias culturais inteiras, aniquilou processos de identidade sócio-cultural há muito sedimentados, e substituiu ícones sociais históricos pelas bandeiras do Mc Donald’s e da Nike. E não parou nisto. O processo evolutivo do exercício da dominação cultural seguiu par e passo o desenvolvimento tecnológico e afetou intimamente os corações e mentes em todo o mundo. A massificação do acesso a internet provou ser a nova revolução industrial. Uma forma rápida e eficaz de ampliar – sem precedentes, nem dimensões – o leque de cidadãos atingidos pela febre do acesso a informação. E então chegamos, por conseqüência, as redes sociais. 
     E como fica a cultura neste processo? Fica, assim como a política, esperando entrar na pauta de debates do quotidiano. Mais uma vez, nos vemos diante de uma forma dominatória inteligente, renovada, revigorada, e ciente da sua capacidade de reprodução. É preciso reconhecer a força do adversário contra os quais lutamos e jamais perder o foco do que deve ser a batalha por uma Cultura inclusiva, educativa, producente, e de massas. 
  A cultura deve ser entendida como o mecanismo transformador e impulsionador do desenvolvimento intelectual de uma sociedade, aliada a educação basilar, a cultura sedimenta no indivíduo os valores morais e sociais que definem o comportamento da sociedade, molda a ação das instituições de Estado e principalmente, permeia o desenvolvimento da identidade cultural de um povo.  
     Cultura não pode jamais servir de objeto de barganha ou moeda de troca em processos políticos, muito menos servir de bandeira efêmera de uma globalização capitalista desenfreada e cruel. As bases do socialismo real também são construídas via cultura, e quebrar a dominação imposta pelas potências européias, submissas do império americano é, sim, fazer brotar novamente nas sociedades, em todos os seus níveis, processos de desenvolvimento da consciência crítica e retomada da construção coletiva de nossa identidade cultural. 
     Desta forma, o Partido dos Trabalhadores tem de fazer valer o seu compromisso histórico com a reorganização da Cultura Brasileira. Capitanear nos locais onde possui o comando dos governos estaduais e municipais as sistemáticas de desenvolvimento do saber e do conhecer cultural. Colocar em prática as idéias formuladas ao longo de anos de debate e vivência partidária e de diálogo com a sociedade civil, organizada e não-organizada. Nesse momento em que a cultura popular encontra uma ambiente extremamente favorável para o seu desenvolvimento, é muito importante que o Partido dos Trabalhadores tome as rédeas do processo, a não simplesmente conforme-se em acompanhar de perto as decisões tomadas. 
     Mas este trabalho não pode e nem deve ser desenvolvido de maneira restrita. A pluralidade de grupos presentes no processo de desenvolvimento das políticas públicas é fundamental para que se cumpra o papel democrático de ocupação dos espaços. A militância cultural petista, que sempre esteve presente nos grandes debates, precisa estar presente nas estruturas de governo, sob pena de não criarmos a forma e darmos a cara petista na gestão da cultura. Outro ponto fundamental na consolidação da aplicabilidade das políticas públicas que sempre defendemos está no reforço da manutenção ou mesmo surgimento dos conselhos municipais de cultura. São os conselhos que farão o trabalho de oferecer o contraponto necessário para que o debate macro seja sempre realizado da maneira mais democrática possível. 
     É imprescindível que façamos a leitura do desenvolvimento histórico da cultura no ambiente capitalista, principalmente em países em desenvolvimento, absortos numa época em que as artes vivem seu processo de reprodutibilidade técnica. 
Por este motivo, é preciso assumir o apanhado histórico no mundo da cultura, e o seu acúmulo de lutas por parte do PT. Não se podendo deixar que este acúmulo seja usado (e muitas vezes distorcido) de forma puramente eleitoral.

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